A sepse é conhecida como infecção generalizada ou septicemia. Apesar de muitos acreditarem, na verdade, ela não é uma infecção que se espalha por todo o organismo ou que está no sangue da pessoa.
Sepse é uma resposta inadequada do nosso organismo à presença de uma infecção que está em um determinado lugar (pulmões, rins, abdômen etc.) e que “ataca” os nossos próprios órgãos e tecidos, levando a um mau funcionamento desses órgãos. Ou seja, a sepse é uma resposta inadequada à presença da infecção.
Essa infecção pode ser bacteriana, que é o mais comum, mas também pode ser ocasionada por fungos ou vírus, por exemplo, o caso da Sars-CoV-2. A COVID-19, nas suas formas mais graves, leva ao mau funcionamento de alguns órgãos e, portanto, é uma sepse viral. Este mecanismo acontece porque nós fomos feitos para combater o agente agressor que ataca nosso organismo.
Quando uma bactéria, um fungo ou um vírus nos ataca e entra no nosso organismo, o nosso sistema imune reage contra aquele agente infeccioso. Se esta reação acontece de forma adequada, conseguimos combater a infecção e ficamos bem. Entretanto, por alguma razão não muito clara (genética, fisiologia ou o tipo de agente agressor), o organismo reage mal àquela infecção. Ao invés de só combater o agente agressor, o sistema imune passa também a agredir o próprio organismo. Em consequência, alguns órgãos não funcionam de forma adequada.
No caso somente de infecção, a pessoa pode apresentar sinais dessa infecção ainda sem sinais de mau funcionamento do organismo, como por exemplo:
Mas se existir uma resposta inadequada a essa infecção, os próprios sistemas passam a ser atacados, surgindo sintomas de mau funcionamento dos órgãos. Por exemplo:
Independentemente de onde a infecção estiver, o mau funcionamento dos órgãos pode se manifestar por esses sintomas, que devem ser considerados como sinais de alerta: alteração do nível de consciência (confusão, agitação, sonolência), diminuição da quantidade de urina, falta de ar, respiração rápida, ou pressão baixa com fadiga e tonteira. Esses sinais devem fazer com que a população procure o sistema de saúde, porque é fundamental que o diagnóstico da sepse seja feito o mais rápido possível!
No sistema de saúde, é muito importante que os profissionais de saúde reconheçam a sepse o quanto antes. A suspeita da sepse, pelos profissionais de saúde, pode ser feita pela presença desses sinais e sintomas, e a partir desse momento, é muito importante que dois pilares funcionem: reconhecimento precoce e tratamento adequado.
Em relação ao reconhecimento precoce, é muito importante que o profissional de saúde comece a agir, coletando exames que podem identificar outras disfunções orgânicas, identificar problemas como falta de fornecimento de oxigênio aos tecidos, um exame chamado lactato, mas também existem exames que vão nos ajudar a saber se realmente existe infecção, quer ela seja bacteriana, fúngica ou viral.
Alguns desses exames detectam a presença de inflamação no organismo. Exame como dosagem de proteína C-reativa e procalcitonina nos ajudam a identificar que o organismo está inflamado. Além disso, é muito importante saber identificar qual é o agente que está provocando a infecção. No caso das bactérias, o tratamento é iniciado com antibiótico, voltado para a maioria das bactérias que podem estar provocando aquela infecção. Mas depois, é muito importante identificar qual é o tipo de bactéria envolvido, para que possamos usar o antibiótico mais adequado para aquela bactéria específica.
Por isso é muito importante coletar culturas do sangue e urina (quando há suspeita de infecção urinária) e de outros locais pertinentes, porque a análise desses exames pode nos ajudar na identificação da bactéria que está provocando a infecção.
Hoje, já estão disponíveis diagnósticos moleculares baseados no material genético das bactérias (DNA) que podem acelerar a identificação dessa bactéria, fazendo com que seja possível descobrir mais cedo ainda qual é o agente que está provocando infecção, e possibilitar o ajuste mais precoce e adequado desses antibióticos.
Esse é o pilar do reconhecimento precoce: saber identificar a presença das disfunções orgânicas, os órgãos que não estão funcionando direito, e saber identificar qual é o agente infeccioso, quer ele seja uma bactéria, fungo ou um vírus. No caso, por exemplo, do SARS-CoV-2, hoje temos diversos exames que, de forma rápida, podem identificar se aquela infecção é decorrência do vírus.
O segundo pilar é o tratamento adequado o mais rápido possível. Quando a infecção é bacteriana, é fundamental a administração o quanto antes de antibiótico. Porque é esse medicamento que vai começar a “matar as bactérias” e ajudar a combater toda aquela resposta inadequada do organismo, que, em suma, está levando ao mal funcionamento dos órgãos. Esses antibióticos devem ser administrados na veia, e mantidos até que se identifique melhor qual é o agente infeccioso. Além disso, se o paciente está com a pressão baixa ou se tem sinais de redução da quantidade de oxigênio que está sendo fornecido aos tecidos é muito importante melhorar a circulação do sangue. Isso pode ser feito, por exemplo, com administração de soro.
Todo esse atendimento nas primeiras horas da sepse é muito importante e deve ser reconhecido como “horas de ouro”. Ele engloba o reconhecimento precoce inicial e o tratamento das primeiras horas. Este tratamento intenso e adequado inicial deve se manter durante toda a internação hospitalar e, por muitas vezes, será necessário internação em unidades de terapia intensiva. O tratamento deve ser otimizado e feito por uma equipe multidisciplinar, de forma que o paciente seja atendido de maneira adequada em todas as esferas da sua doença, aumentando as chances de sobrevivência. O objetivo principal é sobreviver, ter uma alta segura e receber reabilitação de forma adequada!
Especialista em Medicina Intensiva e Doutora em Doenças Infecciosas e Parasitárias.
Presidente da BRICnet – Brazilian Research in Intensive Care Network
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