Sepse é o nome dado a uma infecção grave, com potencial de causar risco de vida à pessoa acometida. São exemplos de infecções que podem cursar com Sepse: pneumonia, infecção urinária, infecção de pele, infecção intestinal e Covid-19. A Covid-19 também pode causar sepse e, nos quadros graves que levam um paciente à necessidade de respirador e ventilação mecânica, são classificados como sepse.
É inegável que, no decorrer das últimas décadas, a taxa de mortalidade intra-hospitalar relacionada à sepse vem decaindo em virtude de um melhor conhecimento da condição e da melhoria da qualidade assistencial.
Os tratamentos empregados para os casos na fase aguda da sepse têm melhorado, e cada vez mais pacientes recebem alta vivos do hospital após um episódio de sepse. Entretanto, para uma grande parcela dos sobreviventes de sepse, receber alta do hospital é apenas o primeiro passo de uma longa jornada de reabilitação, uma vez que sequelas físicas, cognitivas e de saúde mental, são muito prevalentes e podem causar um grande impacto na qualidade de vida, como dificuldade de retorno ao trabalho e estudos, estresse financeiro para o núcleo familiar, além de importante impacto na saúde mental, tanto de pacientes, como de familiares, que estão junto ao paciente e envolvidos no cuidado.
Os quadros de sequelas pós-sepse, também podem prejudicar o sistema de saúde como um todo, devido aos gastos associados à recuperação após a alta hospitalar.
Os sintomas de incapacidade pós-sepse são bastante variados e por isso necessitam de uma avaliação especializada, de um médico e de um profissional de saúde treinado. Existem três grandes domínios da saúde que podem ser acometidos pela sepse: saúde física, cognição e saúde mental.
Em relação à saúde física, o paciente pode apresentar fraqueza, cansaço, fadiga e falta de ar. Esses sintomas, em conjunto, podem causar uma redução da capacidade física, ou seja, o indivíduo não apresenta a mesma capacidade física que tinha antes do episódio de sepse. O paciente pode apresentar tosse, lesões de traqueia (nos casos em que houve necessidade de ventilação mecânica) que podem necessitar de um manejo bem específico. Distúrbios e dificuldade para a deglutição também podem estar presentes e aumentar o risco de desnutrição e pneumonia aspirativa (por aspiração de conteúdo da cavidade oral) sendo esta última uma das grandes causas de re-hospitalização após a sepse. O paciente também pode apresentar lesões por pressão na pele, também conhecidas como “escaras” ou “úlceras de pressões”, devido à imobilidade e gravidade do episódio de sepse. Podem ocorrer, também, contraturas das articulações, causando dor crônica.
Em relação à saúde mental, os pacientes podem apresentar dificuldade de concentração, alteração de memória, dificuldade de recordar fatos recentes de sua vida e redução na velocidade de raciocínio. Estes fatores muito importantes para que a pessoa possa retornar aos estudos, trabalho e volte a ser produtivo. Tanto os pacientes, quanto os familiares podem apresentar sintomas de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
No caso de perda de um ente querido por uma infecção grave, os familiares podem apresentar um quadro denominado “luto patológico”, que é um quadro de luto anormal com grande impacto na qualidade de vida.
A boa notícia dentro de todo esse quadro de sequelas após a sepse é que grande parte delas são reversíveis. Desta maneira, através de uma correta identificação, estabelecimento de um plano de reabilitação e de engajamento, tanto do paciente como dos familiares, nesse processo de reabilitação, é possível que o paciente encurte esse período de incapacidade e recupere a sua saúde plena apresentada antes do episódio de infecção. Para isso, é necessário que o paciente acometido por sepse, passe por uma avaliação de um profissional da saúde que faça um diagnóstico de quais são as incapacidades que estão prejudicando a sua vida para que se possa estabelecer um plano de reabilitação.
Como mencionado no início, essas incapacidades com a sepse são bastantes heterogêneas, e alguns pacientes vão precisar mais de reabilitação física, através de programas de exercícios (fisioterapia), já outros pacientes vão precisar mais de acompanhamento de saúde mental, com psicólogo ou psiquiatra. Já em outros casos, os pacientes necessitam mais de uma avaliação cognitiva, através de acompanhamento com neurologista, com medidas de reabilitação da cognição e com terapia ocupacional. Alguns pacientes podem apresentar um misto dos três grandes acometimentos: saúde física, mental e de cognição. Por isso, enfatizamos a necessidade da avaliação de um profissional de saúde experiente para que se possa estabelecer um plano de reabilitação, para recuperação da saúde o mais rápido possível.
Para resumir, os pacientes sobreviventes de sepse podem apresentar uma série de sequelas físicas, cognitivas, e saúde mental que são tipicamente duradouras, subdiagnosticadas e podem causar um grande impacto na vida do indivíduo. Entretanto, essas sequelas são reversíveis em sua grande maioria, e o rápido acesso às medidas de reabilitação podem impactar de maneira positiva na vida do paciente. Além disso, os familiares são fundamentais para a recuperação do paciente, e podem ser acometidos por sequelas, principalmente, relacionados à sua saúde mental.
Fato. Sobreviventes de sepse apresentam maior susceptibilidade para novas infecções nos primeiros meses após a alta hospitalar. Por isso, é fundamental a adesão a medidas preventivas como: evitar frequentar lugares fechados com grandes aglomerados de pessoas, manter as vacinas em dia, manter uma alimentação saudável, e realizar adequada higienização de mãos e alimentos.
Fake. A maioria das re-hospitalizações pós-sepse são preveníveis: novas infecções, toxicidade medicamentosa e descompensação de doenças crônicas são exemplos.
Fato. Pacientes com sepse que necessitaram de ventilação mecânica apresentam risco aumentado de distúrbios de deglutição. Estes distúrbios podem aumentar o risco de engasgos, pneumonia e desnutrição. Uma avaliação com fonoaudiologista é importante nesse contexto.
Fato. Reabilitação física se associa a melhora de sintomas de depressão e a melhora da qualidade de vida em sobreviventes de sepse.
Fake. Sobreviventes de sepse podem apresentar dificuldade de retorno ao trabalho e, também, custos aumentados devido a novas incapacidades (físicas, cognitivas ou de saúde mental). Esse cenário frequentemente se associa a estresse financeiro para as famílias de sobreviventes de sepse.
Médico intensivista titulado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, mestre e doutor em medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pós-doutor em ciências da reabilitação pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, pesquisador do Hospital Moinhos de Vento, membro do comitê executivo da Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva e membro do Instituto Latino Americano de Sepse.
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