Cuidados com a
saúde emocional



O cuidado com saúde emocional do paciente acometido por sepse, e de seus familiares, precisa ocorrer ainda durante o período de internação, seja na UTI ou unidades de internação. O que acontece quando o paciente vai para casa?

Tanto o paciente, quanto os seus familiares precisam entender que uma série de modificações podem acontecer, seja em maior ou menor grau, por alterações na condição prévia de vida. Desta forma, algumas coisas que o paciente fazia de maneira tranquila antes do evento séptico, pode ser que ele não consiga voltar a fazê-las ou necessite de apoio e adaptações, que serão fundamentais para que o paciente possa recobrar sua autoestima e sua capacidade cognitiva prévia, que pode estar alterada. A família possui um papel fundamental no estímulo do paciente, pois ele pode ir para a casa dependente parcial ou totalmente, causando assim, mudanças na dinâmica familiar.

O cuidado à saúde emocional precisa ser dispensado para o paciente e para a família, pois ambos podem desenvolver estresse, ansiedade ou depressão. Em decorrência da possibilidade de tais sintomas, o paciente e os familiares precisarão de apoio emocional continuado, como psicoterapia. Algumas vezes serão necessárias outras formas de apoio, como terapia ocupacional, fisioterapia ou fonoaudiologia, para que o paciente possa recobrar a sua função prévia, seja no sentido físico ou emocional.

Todas as limitações impostas pelo evento séptico vão afetar o emocional do paciente, uma vez que é impossível alguém que antes trabalhava e tinha total autonomia, e agora se vê limitado, não sinta impacto no seu aspecto emocional, podendo ainda, influenciar as habilidades cognitivas.

Dentro dessas habilidades, destacamos a memória, a velocidade de raciocínio e a dificuldade de concentração, uma vez que os pacientes, muitas vezes, referem que não conseguem se concentrar e absorver as informações como antes, gerando assim angústia. Muitas vezes essas incapacidades são transitórias, e uma reabilitação adequada pode aos poucos, devolver a funcionalidade prévia, mas quando o paciente e a família vivenciam esse contexto, eles não conseguem ter a dimensão das limitações que poderão ser permanentes e das funções que poderão ser recobradas. Frente a esse cenário de incertezas, é preciso pensar o significado de qualidade de vida para cada um, que é vivenciada e sentida de formas diferentes pelas pessoas. Por isso é necessário avaliar o que é importante para o paciente e sua família, trabalhando em cima de uma reabilitação focada nas habilidades a serem novamente conquistadas.

Para algumas famílias, ter o paciente em casa, mesmo que seja sob necessidade de cuidados de forma mais ampla, isso não é visto como algo negativo, pelo contrário, a família quer ter esse familiar próximo. Mas é necessário pensar nas famílias que não têm condições materiais para bancar todo o processo de reabilitação, que pode evolver vários profissionais, e mesmo condições emocionais, de ver o seu ente querido debilitado. É importante falar sobre os sentimentos e não fazer alguns pactos, que as famílias costumam, de não conversarem sobre determinadas situações, porque entendem que o paciente vai se sentir triste. Muitas vezes, o paciente já está triste, assim como os familiares, porque gostaria de ver essa reabilitação acontecer de forma mais rápida.

O tempo do paciente nem sempre é o mesmo tempo da família, e tão pouco da equipe. Isso é muito vivenciado em terapia intensiva, onde a reabilitação e a recuperação dos pacientes dependem de uma série de fatores. O desejo da família, muitas vezes não coincide com o tempo de reabilitação e com condições do paciente, sendo assim, dentro dessa perspectiva, é importante pensar sempre nos objetivos que a família tem para com o paciente e para consigo mesmo, como por exemplo: De que forma o familiar pode se instrumentalizar para sentir-se capaz de ver o seu ente frágil ou debilitado, mas sabendo que ele está bem nessa condição? E que ele está conseguindo entender que isso faz parte de um processo, de um tempo de reabilitação, que muitas vezes vai ser prolongado?

Sabemos que a Sepse faz com que o paciente tenha uma série de dificuldades que são impostas pelo tempo de internação, uso de ventilação mecânica e o tempo que paciente fica acamado. Essas situações precisam ser compreendidas, assim como a existência de doenças prévias, que de maneira paralela, fizeram com que no curso da Sepse, o paciente tivesse menos condições de se recuperar mais rapidamente, e passou por um tempo mais prolongado na UTI.

A saúde emocional está diretamente relacionada à compreensão da situação pelo paciente e familiares, para que possam, com auxílio de profissionais, serem corajosos o suficiente, para lidar com as verdades impostas pela doença ao paciente crítico. O processo de reabilitação pode ser longo e exige muito da família, que precisará de uma rede de apoio, inclusive para auxílio no ajuste das expectativas ao longo desse processo.

Por fim, a minha proposta é que possamos pensar sobre a qualidade de vida, as incapacidades que podem ser transitórias, e às possíveis formas de se construir uma rede de apoio intrafamiliar, com amigos e vizinhos, onde nem sempre a qualidade de vida para aquela família e paciente, será retomar as condições prévias, mas sim, poder interagir da maneira que é possível naquele momento.


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Rita Gomes Prieb
CRP: 07/08559

Rita Gomes Prieb

Especialista em psicologia hospitalar – Conselho Federal de Psicologia. Mestre em ciências médicas pela Universidade Federal do RS, psicóloga do CTI adulto e chefe do serviço de psicologia  do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Membro do departamento de psicologia da AMIB.



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