Os pacientes que tiveram sepse podem apresentar dificuldade de entendimento, para se situarem no tempo e espaço e, também, de compreensão do que está sendo solicitado. Existem algumas ferramentas para identificar se o paciente em questão (o seu familiar ou a pessoa que você cuida) está passando por uma situação dessas.
Além das características descritas, podem surgir alterações de memória, como:
A comunicação é a soma do que falamos, dos nossos recursos verbais e dos nossos recursos vocais: se falamos forte, se falamos fraco, se falamos fininho, se falamos grosso; a velocidade da nossa fala: se falamos lentamente, ou se falamos rápido demais. De como articulamos esses sons e de recursos que nós chamamos de não verbais, ou seja, dos gestos, expressão facial, ambiente ao qual estamos inseridos, postura e até mesmo da roupa usada. Tudo isso comunica!
Quando existe uma alteração de comunicação, é preciso identificar onde ela ocorre, para poder compensar com os outros recursos da própria comunicação e, ainda, para que se possa direcionar o treinamento para os aspectos que precisam ser aprimorados.
Para melhorar uma comunicação, é preciso ter em mente que a comunicação é uma via de mão dupla, ou seja, eu envio uma mensagem, mas o meu objetivo é produzir uma resposta no meu ouvinte, na pessoa (ou nas pessoas) com quem eu estou falando.
Não é só o que eu falo, mas é o que o outro entende. E se esse outro passou por um quadro de sepse, ficando com alterações de memória e mais lentificado, por exemplo, é preciso adaptar a forma de comunicação com essa pessoa. Podemos começar um diálogo mantendo o olhar direcionado para a pessoa com quem estamos falando, por exemplo. Se observarmos que mesmo assim não conseguimos conquistar toda a sua atenção, podemos tocar suavemente os ombros dessa pessoa para redirecionar o foco para quem está falando, para o assunto. A fala deve ser simples, clara e objetiva. Sempre devemos começar pela mensagem principal e repetir de diferentes formas se for um assunto importante, para se assegurar de que a pessoa entendeu.
Cuidado para não misturar muitos assuntos e não perder o foco na hora da conversa! Capriche na articulação: mexa bastante a boca na hora de falar, use palavras simples e um vocabulário conhecido para a pessoa que você estiver falando.
Busque sempre situar essa pessoa no tempo presente: você pode usar o calendário, falar que dia é hoje, mostrar o horário, perguntar se é manhã, tarde ou noite, e dar essa informação na sequência.
Se você perceber que está difícil se comunicar por meio da fala, lembre-se que existem diferentes recursos para uma comunicação ser assertiva. É possível usar gestos, figuras, fotografias, expressões faciais, desenhos, sempre fazendo pausas, repetindo os pontos principais e buscando saber se você foi entendido. Para isso, você pode pedir que a pessoa que você está falando repita o que você disse. Faça perguntas simples com respostas igualmente simples, como: sim, não, isso, aquilo. Essas pequenas estratégias tornarão a sua comunicação muito mais fácil. E lembre-se: comunicar é tornar comum, é partilhar.
É importante ter paciência, sem agressividade. Ao ser agressivo na hora de se comunicar você pode criar uma barreira ou bloqueio neste processo de comunicação. Então, se você observar alguma dificuldade, ajude com pistas:
Por exemplo: quando mostramos a imagem de uma banana e perguntamos para o nosso interlocutor: que fruta é essa da imagem? O seu interlocutor responde: ABACAXI.
Neste momento, tenha o máximo de paciência e o ajude a chegar na resposta correta.
Pergunte com pistas:
“Abacaxi? Será? Acho que não!”
“Que fruta o macaco gosta muito?”
Se não for suficiente, avance um pouco mais, dando pistas silábicas:
“O macaco gosta de ba…?” “ – Espera-se ouvir: banana!”
Você provavelmente vai ouvir isso. Aí, você reforça: isso mesmo, banana! E volta a mostrar a imagem: “É uma banana!”. Para fixar.
E para finalizar e resumir: uma comunicação clara sempre conta com uma linguagem simples, objetiva e com vocabulário de fácil compreensão.
Sempre comece pela mensagem principal, repita os pontos importantes, de diferentes formas para fixar, e use todos os recursos da comunicação: os verbais, os vocais e os não verbais. O mais importante é que a mensagem seja transmitida com máximo de clareza.
Henrique Moura Possui graduação em Fonoaudiologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Mestrado em Comunicação Humana pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós graduação em Disfagia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Pós graduação em liderança pela universidade de Harvard – EUA, é ator (com registro pelo SATED-SP), diretor de teatro, consultor em comunicação e palestrante. Possui experiência em diferentes áreas da fonoaudiologia, com ênfase em voz, disfagia e motricidade orofacial.
Coordenador do departamento de Fonoaudiologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – BP e BP Mirante.
Autor de artigos científicos de abrangência interdisciplinar. Parecerista consultivo de revistas científicas e membro estável do Comitê de Ética em Pesquisa da BP-SP.
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