A alimentação está envolvida em todos os processos dos ciclos de saúde e doenças. Após o período da doença, muitas vezes com necessidade de internação prolongada, a alimentação tem grande importância para a reabilitação do sistema imunológico e retomada das atividades de vida diária, sendo necessário auxílio nutricional. No caso da sepse, as consequências causadas pela internação prolongada trazem alteração de quase todos os sistemas, por exemplo, cardiológico e imunológico, e o paciente pode apresentar fraqueza, cansaço aos pequenos esforços, dificuldade de manter a autonomia e conseguir fazer suas atividades sozinho. Além disso, os pacientes que tiveram necessidade de ventilação mecânica, muitas vezes, apresentam dificuldade de reorganizar as funções relacionadas à deglutição, mastigação, digestão e inclusive evacuação.
Os profissionais nutricionistas são responsáveis por programar o processo de alimentação após uma internação prolongada e, uma vez em casa, o paciente deve ser reinserido no ambiente e dinâmica familiar e no desempenho das atividades diárias, de acordo com sua possibilidade. Do ponto de vista do resgate dessa dinâmica, os alimentos trazem uma memória afetiva somada ao preparo que a família adota ao longo da sua cultura e convívio.
A atenção à categoria de alimentação ofertada e sua forma de apresentação ao paciente é de extrema importância, visto que pode haver incoordenação do processo de deglutição, mastigação e dificuldade de se alimentar sozinho, sendo necessário usar alimentos com consistência macia, bem cozidos, bem picados e até mesmo batidos no liquidificador para facilitar a ingestão.
A demanda energética é muito alta no processo de recuperação após um quadro grave de saúde como a sepse. Desta forma, é preciso trabalhar com pequenos volumes de alimentação, várias vezes ao dia, sendo necessário criar o hábito de fracionar a alimentação: café da manhã, lanche no meio da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia. Além do fracionamento, é importante ter atenção ao que será oferecido ao paciente e sua apresentação, pois, como o gasto de energia é elevado para a recuperação após o período de adoecimento, isso deverá ser compensado com alimentos de alto valor calórico:
O planejamento da reabilitação nutricional do paciente, com fornecimento de calorias provenientes de todos os grupos alimentares incluindo verduras e legumes, é uma ferramenta que interfere diretamente no resultado da fisioterapia, fonoterapia e até mesmo na terapia ocupacional. Os pacientes pós-sepse podem ter perda de apetite e do paladar após a utilização de alguns medicamentos, podem sentir gosto metálico e até mesmo desenvolver aversão a alimentos que gostavam anteriormente.
A elaboração e preparo da alimentação deve feito com bastante cuidado e atenção, utilizando todos os grupos de nutrientes que ajudarão na reabilitação do paciente. Ademais, a ingesta de líquidos (água, chás, sucos e leite) e de alimentos ricos em líquidos (frutas verduras e legumes) também é importante, pois alguns pacientes possuem dificuldade de deglutição, o que prejudica a hidratação. Nos casos em que há distúrbios de deglutição pode ser necessária a utilização de produtos industrializados, que proporcionam o espessamento dos líquidos para uma consistência parecida com mel. A prescrição de espessantes é normalmente feita pelo fonoaudiólogo a partir de uma avaliação funcional da alimentação, que vai determinar a melhor consistência para os alimentos que deve ser adotada para a dieta do paciente.
O planejamento alimentar do indivíduo após uma internação prolongada inclui: a aquisição de alimentos perecíveis (carnes, leite, frutas, verduras etc.) e não perecíveis, preparo dos alimentos, horário para se ofertar as refeições, apresentação do prato, local da refeição (no leito ou juntamente com os familiares à mesa) e auxiliar o paciente durante a alimentação, se necessário. Com o passar do tempo, o paciente aceita melhor a alimentação e, naturalmente, a família diminui a preocupação para com a elaboração tão cuidadosa dos alimentos, pois o indivíduo já está mais bem inserido na dinâmica da casa.
Nutricionista clínica das Unidades de Terapia intensiva do Departamento de Anestesiologia da UNIFESP.
Preceptora da Residência Multiprofissional em Cuidados Intensivos do Adulto – UNIFESP
Doutora em Neurociências pela UNIFESP
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