Como a fonoaudiologia
pode ajudar?



A fonoaudiologia tem um papel fundamental na reabilitação do paciente pós-sepse. O conteúdo desse texto é voltado para pacientes que passaram por um quadro de sepse e ficaram com sequelas, ou para o cuidador/familiar que irá cuidar do paciente.

Não é incomum que as pessoas que passaram por uma sepse tenham sequelas/alterações. Algumas dessas alterações, são de áreas específicas e que competem ao profissional fonoaudiólogo. As principais alterações fonoaudiológicas estão relacionadas à deglutição e à comunicação:

– Deglutição: capacidade (ou não) de engolir.

– Comunicação: inclui a linguagem, a memória, a capacidade de se relacionar, a voz, e vários outros aspectos que são abordados no próximo texto, específico para as alterações de comunicação.

O fonoaudiólogo é o profissional que avalia, participa do diagnóstico, e reabilita essas funções acima descritas. Como é possível identificar as alterações de deglutição que permanecem após um quadro de sepse? Quais são os sinais de alerta que podem ser observados, para saber se o alimento está indo para o lugar certo? Quando é hora de buscar a ajuda de um fonoaudiólogo?

Quando ouvimos médicas e médicos falando sobre disfagia, eles querem dizer que há uma alteração relacionada à deglutição, ou seja, à capacidade de engolir. E por que isso acontece, se não havia essa alteração antes, se a deglutição era boa antes de passar por um quadro de sepse? Porque a deglutição é muito refinada, e ao longo da vida, nós automatizamos essa função. Somente quando existe uma alteração, é que percebemos o quanto é importante entender cada etapa para, inclusive, sabermos quais estratégias podem ser utilizadas para melhorar esse quadro.

Por que nos preocupamos tanto com as alterações de deglutição? Porque uma das consequências de o alimento ir “para o lugar errado”, é que pode levar à alteração respiratória, gerar uma pneumonia, e nas situações mais graves, ocasionar até outro quadro séptico.

Para deglutir um alimento, o bolo alimentar passa por um tubo chamado esôfago, que o conduz até o estômago, lugar apropriado para a sua decomposição. Quando existe uma alteração de deglutição, o alimento nem sempre faz esse trajeto.  O alimento pode mudar a rota, inclusive para o caminho da frente, que é a traqueia. Porém, passando pela traqueia ele não chega ao estômago, mas sim vai para o pulmão. O pulmão não foi estruturado para absorver os nutrientes dos alimentos. Uma vez no pulmão, o alimento se decompõe sem uma estrutura adequada, e pode levar, por exemplo, à uma pneumonia.

A alteração na deglutição pode se ocasionada, também, por várias causas:

– Neurológicas;

– Enfraquecimento da musculatura da mastigação e deglutição;

– Hábitos inadequados de alimentação;

– Após um quadro de sepse, que pode trazer como consequência, um ou mais desses fatores anteriores.

Após a alta hospitalar, o paciente que passou por um quadro de sepse e tem indicação de alimentação exclusiva por via alternativa (sonda ou gastrostomia), é importante manter a indicação do profissional que fez tal orientação, seja médico, fonoaudiólogo ou nutricionista. Além disso, é imprescindível o acompanhamento de um fonoaudiólogo nesse processo.

Nestas condições anteriores, não se deve ofertar alimentos sem a autorização e aconselhamento de um profissional, uma vez que o processo de deglutição é complexo e as consequências de uma oferta alimentar inadequada podem ser graves e, em alguns casos, até fatais.

Agora, se o paciente consegue se alimentar por boca, mas existe algo que “não vai bem”, há alguns sinais que podem ser observados para rastrear se existe alguma alteração de deglutição:

– Dificuldade para mastigar ou engolir.

– Sensação de que o alimento está “parado na garganta;

– Tosse e/ou pigarro durante, ou logo após a alimentação; 

– Cansaço, perda do fôlego, sudorese, durante ou logo após se alimentar.

A alimentação não deve trazer um gasto de energia grande. Quando isso ocorre é sinal de que existe alguma alteração na deglutição.

A presença de resíduos de alimentos na boca, principalmente após a deglutição, também é um sinal de alteração. Ao identificar de algum destes sinais, é importante procurar a ajuda de um fonoaudiólogo que seja especialista em disfagia.

Até que a avaliação do fonoaudiólogo seja realizada, existem algumas maneiras de evitar ou amenizar o impacto das alterações na deglutição:

– Se alimente sempre bem sentado, evite inclinar a cabeça para trás na hora de ingerir os alimentos e/ou líquidos;

– Se fizer uso de prótese dentária, se assegure de que ela está bem fixada;

– Evite distratores na hora de se alimentar, ou seja, concentre-se apenas na alimentação, e evite comer enquanto assiste televisão, ouve música ou conversa, pois, essas ações podem atrapalhar o processo de mastigação e de deglutição.

– Mastigue bem, de ambos os lados, sem pressa.

– Coma sempre em pequenas quantidades. Só coma a próxima colherada/garfada após deglutir todo o alimento que estava na boca;

– Em caso de engasgo, não coma outro alimento, ou tome água por cima. É preciso respirar fundo e se acalmar. Se não houver melhora, ou começar a sentir falta de ar, procure imediatamente um atendimento médico;

– Não se alimentar com sono e nunca oferte alimentos para alguém que esteja com sono, pois nesse estado, a musculatura relaxa, e a chance de apresentar um engasgo ou de esquecer o alimento parado na boca é muito grande;

– Ao final de cada refeição, permanecer pelo menos 40 minutos sentado (a), para que não se tenha refluxo, ou seja, para que o alimento não volte;

– Escove os dentes e a língua após as refeições, porque além de manter a saúde bucal, essa prática ajuda a retirar os resíduos alimentares que ficam na boca, e que podem, inclusive, serem deglutidos de forma inadequada.


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Fato ou Fake sobre a Fonoaudiologia


  • Uma pessoa que passou por um quadro de SEPSE pode apresentar alterações na hora de engolir (deglutir) alimentos/líquidos.
  • Nunca mais vou conseguir me comunicar de forma adequada com uma pessoa que passou por uma sepse?
  • Tossir ou ter a sensação de que o alimento está “parado” durante as refeições é sinal de que algo não vai bem com a deglutição.
  • Tudo bem comer deitado.
Uma pessoa que passou por um quadro de SEPSE pode apresentar alterações na hora de engolir (deglutir) alimentos/líquidos.

Fato. A deglutição adequada envolve vários fatores e, comumente, pessoas que passaram por um quadro de sepse podem apresentar uma alteração de função na musculatura responsável pelo ato de deglutir. A parte boa é que, com acompanhamento adequado de um profissional Fonoaudiólogo, esse quadro, muitas vezes, poderá ser revertido.

Nunca mais vou conseguir me comunicar de forma adequada com uma pessoa que passou por uma sepse?

Fake. A comunicação, em geral, é alterada nas pessoas que passaram por uma sepse. Mas existem recursos e estratégias para facilitar esse caminho. Alguns deles são: articule mais as palavras, fale olhando para a pessoa com quem você está se comunicando, use gestos, expressões e imagens para facilitar a comunicação.

Tossir ou ter a sensação de que o alimento está “parado” durante as refeições é sinal de que algo não vai bem com a deglutição.

Fato. A deglutição (ato de engolir) é bastante complexo. Tosses e engasgos sinalizam alguma alteração nesse processo. É importante que haja avaliação de um Fonoaudiólogo nestes casos para evitar problemas mais graves.

Tudo bem comer deitado.

Fake. A postura mais adequada para se alimentar é entre 60° e 90°. Ou seja, o mais sentado possível. Isso contribui para que o alimento ou liquido se direcionem para o “caminho correto” e evite engasgos.

José Henrique de Moura Quirino
CRFa 2-20046

José Henrique de Moura Quirino

Henrique Moura Possui graduação em Fonoaudiologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Mestrado em Comunicação Humana pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Pós graduação em Disfagia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Pós graduação em liderança pela universidade de Harvard – EUA, é ator (com registro pelo SATED-SP), diretor de teatro, consultor em comunicação e palestrante. Possui experiência em diferentes áreas da fonoaudiologia, com ênfase em voz, disfagia e motricidade orofacial.

Coordenador do departamento de Fonoaudiologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo – BP e BP Mirante.

Autor de artigos científicos de abrangência interdisciplinar. Parecerista consultivo de revistas científicas e membro estável do Comitê de Ética em Pesquisa da BP-SP.



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