Depoimento – Mariane Ferraz
Meu nome é Mariane Ferraz, tenho 35 anos.
No dia 31 de janeiro de 2025, vi a minha vida ir para o fundo do poço em poucas horas, mas, antes de contar sobre esse dia, vou voltar um pouquinho no tempo. Lembro que, há alguns dias, estava sentindo dores na barriga, mas fui negligenciando, achando que não era nada. Além das dores, comecei a sentir cansaço e minha pele mudou drasticamente, ficando seca e porosa. Enfim, fui deixando de lado todos esses sintomas, dando preferência à minha rotina. Até que fui ao ginecologista e, aparentemente, eu só estava com uma infecção urinária leve que seria tratada com antibiótico.
As dores na barriga foram apertando cada vez mais, até que, no dia 31 de janeiro de 2025, estava trabalhando e a cólica aumentou absurdamente, provocando vômito. Foi aí que decidi ir ao hospital, pois já tinha tido cólica renal quando mais jovem. Procurei um hospital perto de casa, pois estava sozinha. Lá recebi o diagnóstico de que estava com pielonefrite e havia um cálculo obstruindo o canal da bexiga. Eu teria que fazer uma cirurgia de imediato. Enquanto estava na sala de medicação, aguardando um leito, comecei a me sentir muito mal, minha saturação começou a baixar e estava com 150 batimentos cardíacos. Fui levada para a emergência, na qual descobriram de imediato a sepse.
A infecção nos rins já tinha se tornado sepse. Subi direto para a UTI e foi aí que o desespero começou. Como estava sozinha — minha família mora em outra cidade — liguei para uma amiga que, de pronto retorno, foi até o hospital me acompanhar até que minha mãe chegasse em São Paulo. Como estava com sepse, não seria mais possível fazer laser para remover o cálculo, então a solução seria a implantação de um duplo J para ver se a pedra descia. Fui iluminada de estar nas mãos de um bom profissional (um anjo) que, na implantação do cateter, conseguiu remover o cálculo. Porém, ao voltar da cirurgia, a sepse tinha avançado. Mesmo já tendo iniciado a medicação, ela já havia tomado os pulmões e parte do coração. A partir desse momento, passei a respirar por aparelhos, com ajuda do oxigênio.
Foram longos dias na UTI, com dores, reflexões e questionamentos. Minha mãe foi liberada para me acompanhar. Eu via ela orar o tempo todo do meu lado, foi muito forte. Em alguns momentos, eu pensava que era o final da linha para mim, meu corpo estava lutando, mas a minha saturação não subia por nada. Fazia fisioterapia várias vezes ao dia e nada. Já estava ficando dependente do oxigênio. Até que, em uma manhã, uma fisioterapeuta (mais um anjo) chegou e debateu com o médico de plantão para arriscar tirar o meu oxigênio. Ela afirmava com muita certeza que a minha saturação iria começar a subir. Assim foi feito: minha saturação começou a subir e, aos poucos, eu fui me regenerando.
Lembro que a minha maior alegria foi levantar da cama e ir até a janela ver a luz do sol. Aquilo me emocionou de uma maneira indescritível. Conforme fui me recuperando, saí da UTI, fui para o semi-intensivo e, logo depois, para o quarto. Lá eu descobri que ainda tinha mais sete cálculos nos rins, mas só poderia fazer a cirurgia após me recuperar 100% da sepse. Fiquei com sequelas: água nos pulmões durante uns 20 dias, perda de memória e dificuldade de raciocínio. Graças a Deus, aos poucos eu fui me recuperando, mas foram três longos meses até me restabelecer novamente. Após estar recuperada da sepse, removi os demais cálculos do meu rim esquerdo.
Os médicos foram bem sinceros comigo: se eu tivesse algum tipo de comorbidade, com certeza eu não estaria aqui agora, escrevendo esse depoimento.
Sete meses se passaram e eu ainda me emociono muito em contar esse relato. Hoje eu tenho certeza de que sou um milagre. Eu nasci de novo. Mas sinto que a minha vitalidade não é mais a mesma. Sinto meu corpo mais lento, ainda se regenerando, e às vezes tenho falhas na memória (que era de elefante… rs).
Passar pela sepse foi uma luta bem difícil. Eu venci, mas as marcas que ela deixa não são fáceis de digerir. Porém, hoje posso dizer, com muito orgulho, que me tornei uma pessoa muito mais forte e grata, principalmente pelas pequenas coisas: pelo ar que eu respiro (é assustador não conseguir respirar sozinho), ver a luz do sol, levantar da cama, ir ao banheiro, tomar banho…
Aproveito esse espaço para deixar o meu agradecimento a todos que vibraram pela minha recuperação. E espero, de coração, que de alguma forma esse depoimento conforte você que está lendo agora. Às vezes a dor é necessária para transformar.
Obrigada.
Mariane Ferraz – São Paulo/SP
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