Pé Equino Varo
no Pós-Sepse



Pacientes que permanecem acamados por longos períodos na UTI, especialmente após quadros graves como sepse, podem desenvolver uma deformidade conhecida como pé equino varo. Essa condição se caracteriza por uma flexão plantar forçada e rígida do pé, dificultando a mobilidade e impactando diretamente na reabilitação.

O que causa o pé equino varo?

O pé equino varo está frequentemente associado a alterações neurológicas. Ele ocorre devido a um desequilíbrio entre os tratos motores do sistema nervoso central, principalmente o trato piramidal e o trato extrapiramidal.

  • Trato piramidal: responsável pelos movimentos voluntários — como movimentar mãos e pés conscientemente.
  • Trato extrapiramidal: encarregado de manter o equilíbrio entre as forças musculares e tendinosas do corpo, especialmente entre os músculos flexores e extensores.

Em indivíduos saudáveis, esse equilíbrio permite que as articulações permaneçam em repouso em posição neutra, sem necessidade de esforço ativo. No entanto, quando há lesões neurológicas — ainda que periféricas — esse equilíbrio se perde. Com isso, os músculos flexores tendem a se tornar mais ativos ou enrijecidos, levando à deformidade do pé em flexão plantar.

Quem está em risco?

Essa condição pode ocorrer em pacientes com:

  • Paralisia cerebral
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Politraumatismos
  • Longos períodos de intubação na UTI
  • Quadro grave de sepse

O pé equino varo pode surgir mesmo sem uma lesão cerebral severa, sendo frequentemente resultado de complicações periféricas e da imobilidade prolongada.

Formas de prevenção

A melhor abordagem é a prevenção precoce, antes que a deformidade se instale de forma rígida. Uma medida importante é o uso de órteses tipo AFO (Ankle-Foot Orthosis) — dispositivos que mantêm o tornozelo e o pé em posição neutra de 90°, evitando a progressão da deformidade.

O uso de AFOs deve ser considerado desde o início da internação em pacientes com risco de desenvolver desequilíbrios neuromusculares, principalmente em ambos os membros inferiores.

Tratamento quando a deformidade já está presente

O tratamento varia conforme o grau de rigidez da flexão plantar:

  • Flexão flexível: quando o pé ainda pode ser trazido manualmente à posição neutra, o uso contínuo da órtese AFO pode ser suficiente para manter o alinhamento e prevenir piora.
  • Flexão rígida: quando o pé já está contraído e não retorna passivamente à posição normal, é necessário associar outros tratamentos, como:
    • Aplicação de toxina botulínica nos músculos posteriores da perna (gastrocnêmio, sóleo e tibial posterior), para reduzir a contratura muscular.
    • Fisioterapia intensiva focada em alongamento e reeducação muscular.

Manter atenção à postura e mobilidade dos pacientes críticos, especialmente os que permanecem longos períodos acamados, é essencial para evitar complicações ortopédicas como o pé equino varo. A atuação preventiva e interdisciplinar faz toda a diferença na recuperação funcional desses pacientes.


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Dr Antônio Carlos Zucco
CRM RS 31827

Dr. Antônio Carlos Zucco

Médico Ortopedista



Responsabilidade técnica: Regis Goulart Rosa (CRM-RS 31801)
RQE Medicina Intensiva 20217



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